Bullying


Se tu está com alergia, micose, bicho de pé ou frieira, o que faz? Deixa lá quieto esperando melhorar ou providência remédio, cuidado, tratamento, muda as condições que geraram isso?

Relacionamentos podem ser parecidos.

Vamos focar na frieira.

Se tu tem frieira e não trata, continua não secando entre os dedos, não procura tratamento, remédio, etc, ela não vai te deixar, vai piorar,ou continuar incomodando igual.

Se tu tem um relacionamento mal concebido, não desenrolado., que não traz benefícios. É deixar rolar, vai piorar ou continuar igual, incomodando.

O tratamento é buscar conseguir resolver dentro de ti. Pra isso é preciso trabalhar. Mudar a si mesmo, a sua situação. Encarar de frente o problema procurando soluções. Secar entre os dedos ou manter a mente quieta e o coração tranquilo.

Nem sempre a gente quer quem nos valoriza, quem pode nos dar o que sonhamos.

Voltando a frieira.

Eu acho que a melhor estratégia, como pra quase tudo na vida é método científico.

Identificar qual o tema que nos aflige, qual a justificativa pra isso acontecer, qual o problema que gera, possíveis soluções para isso, teste. Das hipóteses levantadas escolha o melhor caminho para solução, que pode incluir várias estratégias.

Novamente sobre a frieira.

A temática é doença e saúde. Isso acontece porque fomos infectados e/ou propiciamos o ambiente ideal pro bichinho se desenvolver. O problema é que é um fungo, pode se espalhar, dá coceira, machuca, etc. Como solucionar? Há algumas hipóteses.

1. Deixa como está, esperando que vá embora.

2. Encara o problema, sofre, sente que não devia estar acontecendo, que tu não merece isso, que tu é tão bom, porque que foi sorteada com isso? Se joga na cama e chora. Por injustiça, por ser vítima, por não ter o que merece etc, etc.

3. Identifica o problema e percebe que isso só aconteceu contigo ao invés de com aquela outra pessoa que também anda descalça porque a frieira não sabe o que está fazendo.

4. Percebe que não te faz bem, trata a frieira como ela é, uma doença, um fungo, um parasita, algo que não merece teu pé e trabalha pra não ter mais ele.

Mas como fazer isso?

  1. Secando os pés, passando pomadas e cuidando onde pisa.
  2. Xingando a frieira pra ela se colocar no lugar dela e sair do seu pé.
  3. Fugindo dela, evitando olhar e fazendo blasé quando o encontro for inevitável, quando ela te causar uma coceirinha.

Se não seguir passos bem básicos, pode te perder. Como em qualquer projeto.

E depois que se perde, capaz até de achar que frieira não tem cura.

Relacionamentos são assim.

Não deixe de caminhar por causa da frieira. Não deixe de ir ver um lindo por do sol porque pode pegar fungo. Se proteja mas não se prive.

Seja mais que a frieira! Ela não merece tanto temor. Normalmente só causa uma coceirinha que logo passa

Procurar a causa de e eventos trágicos como os que vemos nos noticiários norte-americanos nas pessoas que cometem tais atos é um caminho que não vai trazer nenhuma solução.
Condenar o bandido que fez isso, desumaniza-lo, procurar falhas de caráter ou de formação dos assassinos ou suas famílias deve ser encarado apenas como um exercício de julgamento a partir de premissas que temos que são na maioria das vezes bastante limitadas.
Se quisermos encarar o problema que provoca ou permite tais tragédias temos que nos propor um exercício reflexivo mais apurado e além do simples choque causado pelo evento.
Analisei dois fatores que considero importantes, a cultura armamentista americana e a forma competitiva e individualista que o sistema educacional esta ancorado.
Os Estado Unidos são pautados por uma constituição, que, aprovada em 1787, segue em vigor desde então. Ela foi alterada ao longo do tempo por 27 emendas constitucionais, sendo que as 10 primeiras foram os “Bill of Rigths”, direitos básicos do cidadão.
Pra ter ideia da importância das armas, o direito a te-las e usa-las basta ver que a segunda emenda garante a todo cidadão americano tal direito.
Crianças crescem tendo mais presentes em sua vida a arma que enfeita a parede da sala de casa do que seus pais ou fotos de família. Desde muito cedo aprendem a usar, diferenciar armas e desenvolvem desejo de possuir elas. Não se trata apenas de uma forma de coleção, vai além disso, é desenvolvida a crença de que nas armas pode-se encontrar soluções para os problemas do cotidiano. A arma torna seu possuidor mais forte, ao menos é o que ele sente.
Não há exames ou testes psicológicos ou de qualquer tipo para possuir uma arma. Se a noite esta quente, pode-se ir a uma loja comprar um sorvete ou uma arma, com a mesma facilidade.
Urge entender o contexto em que foi criado a emenda constitucional, ela data de um período de grandes distúrbios e confusões internas, onde a segurança publica tinha níveis preocupantes e a possibilidade de conflitos seguia latente. A idéia por trás de permitir acesso dos cidadãos as armas era simples, com pessoas armadas em casa, todos fazem parte de um potencial exercito para defender a nascente pátria.
Não negarei, por desconhecimento, que tal objetivo tenha sido atingido em algum momento. Mas será que as premissas que trouxeram a necessidade da emenda existem ou ainda outros que possam justificar essa imensa cultura das armas?
Enquanto não acontecer mudanças na lei que possam trazer mudanças estruturais, mesmo que a longo prazo, não temos motivo algum para acreditar que a realidade de esporadicamente termos ataques como esses seguirem acontecendo.
Claro que o problema não se limita a forma de acesso as armas, ou a forma como as pessoas encaram isso, acho que uma serie de outros motivos poderiam ajudar a entender a situação, destaco a individualização e competitividade que são incentivadas desde os primeiros anos escolares, onde ou a pessoa se destaca ou é um failure. Lembro aqui das doenças da moda que atingiam os americanos, tempos atrás tivemos o transtorno de déficit de atenção, que fez com que pais procurassem psiquiatras para medicar seus filhos com Ritalina, melhorando assim seu desempenho acadêmico. Foram apresentados estudos com resultados no mínimo alarmantes apontando que mais de 80% das crianças usavam o medicamento. Imagine o contexto, seus pais interpretam qualquer desvio como digno de medicalização, assim como professores, psicólogos e outros agentes de ensino. Os setores de acompanhamento pedagógico e psicológico das escolas se voltavam mais pra unificar comportamentos e tornar desviantes mais padrão do que fornecem acompanhamento para aceitar, entender e ensinar as crianças e jovens a se viver e aceitar sua posição ou forma de ser na sociedade, no grupo. Quem saia um pouco da forma era rapidamente medicado para ser mais padrão. A diferença era tratada enquanto problema, quando os profissionais fazem isso, que esperar de colegas de turma ou até mesmo a família de crianças e adolescentes? O tal bullying não existe por si próprio, surgiu neste cenário de aniquilação de diferença generalizada beirando uma histeria.
Voltando ao incidente de Connecticut concluo que o erro não foi permitir que o jovem entrasse na escola, e a solução não seria crucifica-lo ou enforcá-lo antes de fazer isso, porque não resolveríamos a situação. Cedo ou tarde outro faria o mesmo até que faltassem forcas.
A solução para o problema, para mim, esta em procurar sanar o universo de circunstâncias que possibilitam tais acontecimentos. Se será duro a sociedade americana mudar os preceitos da segunda emenda, ou mudar a forma que cria e protege suas crianças, não será tão duro quanto a dor dos pais que hoje ou amanhã enterrarão seus filhos sem entender como foi possível tal coisa acontecer.
A culpa está no espelho, não na janela.

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