Caro Sr. Oluea

És o único responsável pelas situações que corroem vossa alma. No afã de ser aquilo que não é, de ter uma vida que não mereces, de possuir tudo que não lhe convém acaba por conquistar, não sem grande esforço de autoengano, a miséria de sofrer. São patéticas as práticas, lamentáveis as resoluções e desprovido de noção o teu cotidiano. Não tens o direito de reclamar daquilo que era certo que aconteceria. Teu jeito de fazer só gera isso. Não mereces nem ser considerado digno de pena, porque está conservo aqueles que não insistem nos erros, que não lamentam pelo que causam. Bastaria o mínimo esforço para te preservares e não machucar assim também minh’alma.

Se tivesses pudor, se fosse precavido, se não buscasse sempre fracassar, não serias assim. Esse poço de angústias. Esse profundo vazio de significado. Se arrepender daquilo que buscou com afinco e cumpriu todos passos da caminhada é até injusto com aqueles que erram tentando acertar.

És uma pessoa de sucesso. Planeja o fracasso, e cumpre. Teme viver e não vive. Foge de amar e não é amado. Não chore por um dia de sol perdido quando preferiu a solidão do teu leito. Não reclame de cansaço quando escolheu a lua, embriagado entre estranhos, em braços que não merecem teu calor. Não seja tão mesquinho. A vida cobra o preço daquilo que decidimos. Do que buscamos.

Sem mais, 

Do seu eu ontem e amanhã.

Não sei ouvir? 

O que dizer? 

Como sorrir? 

Porque sofrer?

I
Respire menina. Sente na janela que a tempestade passa.

Assim como merecemos o que é nosso.

Assim como perdemos o que não é.

As dificuldades não são maiores que nossas possibilidades de carregar. 

II
Divida o peso das dúvidas.

Deixe de lado tudo que não é extremamente necessário.

Te preciso bem para estar bem. 

Te quero sorrindo de verdade, abraçando forte e sendo linda.

III
Não deixe o mundo te esmagar.

Não duvide da força que tem.

Não desista, porque nasceste pra voar.

Está no teu olhar, no teu falar, no teu existir. 

IIII

Aguente esta tormenta. 
Fique firme nessa ressaca, porque vai passar.

Eu sei que vai. Por ti, acredito.

E amanhã estaremos mais fortes. 

Muita graça sem ser agraciado. 

Muita desgraça sem ser amaldiçoado. 

Muito alto e tão baixo em poucos segundos. 
A queda livre. O fundo do poço. Em duas mensagens. Um olhar. Meio não.

Preciso ser eu e menos quem quero parecer. 

Preciso do som da voz e do silêncio da alma.

Quero o calor de te ter aqui, e o gosto do frio do edredom.

No teu olhar vejo a vida. E a morte daquilo que não sou. 

Cura do engano. Veneno da verdade. 

Vejo a sorte, me vejo como acho ser.
Preciso de distância pra respirar mas preciso mais da presença pra respirar. 
Ainda acho que preciso me aprumar.
Essa coisa de fuga, bebidas, festas, enganos, atrasos, cansaços, suores, agitos. Não solucionam.

Em casa, cansado, amargo, chato, sozinho, triste, ensimesmado, música triste e desistir. Não solucionam. 

Me falta o norte, me falta a sorte. 

Fez-se noite.
Porta que fecha.
Vida que esvai.
Casa vazia.
Eu só.

Novos rumos.
Outros olhares.
Mais um sotaque.
Aos tropeços.
Eu fui.

De novo mudei.
Agora ao lado.
De passo em passo.
Chegando em casa.
Eu vim.

O sol nem chegou.
Eu sei que ele vem.
Está aqui perto.
Esquentando meu lar.
Eu estou.

Não é porque queima que deixarei de colocar a mão.

Às vezes esqueço de cortar o cabelo. A vida corrida impõe escolhas, e entre ir ao cabeleireiro e tomar uma ceva, a primeira opção costumeiramente leva desvantagem. Faziam alguns meses que queria sem sucesso aparar as madeixas, no sábado passado encarei o objetivo de frente e me despedi dos cachos.

Dentre os comentários dos amigos, houve quase uma unanimidade sobre a”melhora”, “sobriedade”, “decência”(em tom amistoso) do novo corte, talvez por isso a reação diferente valha o registro.

Quase no fim da terça uma colega terceirizada me inquiriu, “Jonas, porque cortou o cabelo?”e pela primeira vez minha resposta foi apontar para o entorno, estava na minha mesa, Ässim fica mais de acordo com o ambiente”. Não sei quanta verdade guardamos nas respostas que pouco expelimos, mas normalmente dou bastante valor a estas.

Ela respondeu: Jonas, a gente tem que ser, ficar e estar do jeito que a gente gosta e se sente bem.
Disse enquanto passava para ir embora. É isso ecoou dentro.

Tão simples, tão diferente de todo resto.

Mas a saga segue, do que gosto? O que quero? Acho que me despedirei deste plano sem saber.

P.S. No momento no catamarã, indo para Guaíba, é um casal que dormia abraçado no píer, que tava tri frio, agora viaja abraçado e dormindo no catamarã. Simplicidade, você está em todo lugar.

Há quem diga que cautela e um prato de canja não fazem mal. 

Eu acredito no potencial da encapsulização, trata-se da seguinte medida. 

1. Se afasta de compromissos sociais.

2. Cancela presença em eventos, ou não responde.

3. Desliga o celular. 

4. Não se liga em redes sociais. 

5. Mantenha tudo que precisa em casa, em bons estoques, tabaco, cafeína, álcool, frituras, pré-cozidos. 

N˜ão dê ouvidos a quem quiser te fazer mudar de ideia, eles podem te convencer e jogar todo esforço por água abaixo. 

(Continua)

Não sou prático. 

Não jogo fora quase nada, não decido quase nunca, não resisto quase em nenhum momento.

Me entrego, mesmo que tente manter uma escassa e fina manta de resistência e contrariedade. 

Vivo com tanto coração, com tanta alma, com tanta vontade que frequentemente erro o caminho e acabo perdido. 

Sinto demais. 

As dores, os amores, os odores, a grama crescendo, o pássaro comendo, a formiga (em)pilhando.

Sou leve, frágil. Me machuco rápido, me curo devagar.

Por sorte esqueço dos erros que cometeram comigo na velocidade de um pensamento.
Pra entender, só sendo como eu. Vivendo. 

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Acredito em presságios, em impressões. O vento no fim da tarde sempre traz notícias. 

A chuva domingo à tarde conta alguma coisa.

Que quer dizer essa saudade de cada pintinha que eu via no teu rosto que tantas vezes contemplei dormir e tantos momentos comuns me fez sentir no céu?

Guardei tudo que pude de nós. Quando me deparo com alguma coisa, suspiro, transpiro e choro. 

Dor de não ter podido viver nossos momentos em câmera lenta. 

Queria tudo de novo, mais devagar. Com mais sim, com mais carinho sem motivo, com mais tardes juntos, com mais noites esperando o sono chegar ao teu lado. 

Quero é não posso. 

Sonho é não terei. 

Pra que viver assim?

Sob a primeira luz do sol a rendeira tece. 

E se juntam a ela outras tais quais. 

Rosto firme, óculos de grau com armação grossa. 

Pele bronzeada é um saber que só pode ser medido pelas rugas. 

*

O tear é o seu mundo, o enlaçar, entremear, misturar das linhas são como valsa

Dois pra lá. Dois pra cá, respira e vai. 

O dia passa num tiquetaquear ritmado.

***

Enquanto os pássaros se aninham, se alongam e preguiçosamente começam seus afazeres, 

Elas tecem. 

Enquanto o sol sobe, devagar e esquenta.

Elas tecem e cantam. 

** 

O cantarolar começa baixinho, lá no canto com Dona Maria. 

Uma a uma as vozes vão se soltando, se alinhando, encantando. 

E a ave mais reservada estufa o peito e arfa sublime o mais profundo acorde.

Sem arestas ou bordas inesperadas. Tudo como deve ser. 

****

Renderia sua renda faz render, me faz rendido no seu cantar. 

Quando olha, 

Castanho.

O entorno, 

Se esvai.

O minuto, 

Um segundo. 

O inverno, 

Primaverizasse.